Pecadinho e Pecadão
Por Eduardo Feldberg - Agosto/2010
Desde a época da classinha de 7 e 8 anos da Escola Bíblica Dominical, eu e meus colegas de classe já éramos corrigidos por nossas falhas infantis (como a de pegar mais de duas bolachas) com a admoestação:
- Não importa o seu erro! Não existe “pecadinho” e “pecadão”. Tudo que é errado é pecado.
Eu, com minha mentalidade infantil, entendia que não há diferença entre o “tamanho” ou “gravidade” dos pecados, crendo que tanto assassinar uma pessoa quanto “colher uma uva de graça” na feira (algo que fazia com frequência semanal) tinham o mesmo peso espiritual, e eu me tornaria a mais desgraçada das crianças, se cometesse tal delito. Imaginava que Adolf Hitler e eu estaríamos no mesmo patamar condenatório, se eu caísse na desgraça de murmurar contra meu chato professor, afinal, tanto eu quanto Hitler estaríamos em pecado, e até então, não havia diferença entre pecados.
Com o passar do tempo, entendi que apesar de todo pecado ser pecado, existem sim pecados menores e pecados maiores, em diferentes escalas ou intensidades. Hoje, com base bíblica, entendo que há certa gradação entre os pecados, e isso pode ser notado, dentre outras formas, pelo grau de consequência de cada tipo de erro. Considerando-se que o pecado é “toda ação ou pensamento que desagrada a Deus”, vemos na Palavra que há pecados voluntários e involuntários; pecados por descuido e premeditados; pecados perdoáveis e imperdoáveis ¹; pecados perceptíveis e imperceptíveis; pecados para a morte e pecados que “não são pra tanto”. Existem pecados que Deus odeia, e outros que Deus odeia com uma maior intensidade. Vamos analisar alguns versículos que evidenciam estas diferenciações:
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Pecados por Fraqueza ou Involuntários: São os pecados não cometidos de forma “rebelde” (do tipo “não estou nem aí”), mas sim por fraqueza, descuido ou desatenção. De certa forma, são os pecados mais leves, por serem erros cujo praticante tentou evitar! Apesar de nenhum pecado ser justificável, e de nenhuma tentação ser maior do que podemos suportar, corriqueiramente pecamos por não irmos até esse limite, e cedermos diante de tentações, porém, não sem esforço. O apóstolo Paulo mesmo disse que muitas vezes pecava sem querer! (Romanos 7.19)
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Pecados Premeditados: São os pecados em que a pessoa pensa, planeja e age. Pecados em que não há esforço contrário, visando evitá-lo. A pessoa está indiferente às consequências de seus atos iníquos, e os pratica decididamente, como no caso de Hofni e Finéias, que roubavam as ofertas dedicadas ao Senhor, dia após dia. (1 Samuel 2.17)
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Pecados Ocultos: Muitas vezes, por vivermos num mundo de mudanças constantes, ou por falta de leitura bíblica, cometemos pecados que sequer são de nosso conhecimento, ou pecados que cometemos há muito tempo, e não nos lembramos mais. Algumas vezes, quebramos mandamentos de forma “imperceptível” a nossos olhos, como o salmista, que pedia perdão até mesmo pelos pecados que estavam ocultos dentro de si. (Salmos 19.12; 90.8)
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Pecados Abomináveis: Salomão, através de uma construção literária muito usada pelos hebreus, dá a entender em Provérbios 6.16-19 que Deus odeia alguns pecados, mas abomina outros. Ele descreve uma série de transgressões que Deus odeia, e no final da lista, inclui uma atitude que Ele não apenas odeia, mas abomina, que é o de criar divisão entre os irmãos.
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Pecados Muito Grandes: Em alguns versículos, lemos sobre a incidência de não apenas um “pecado”, mas de um “pecado muito grande”, como confessa o salmista em Salmos 25.11. Moisés também acusa os israelitas de cometerem um “pecado mui grande”, ao construírem um bezerro de ouro, em Êxodo 32.31. Não se tratava apenas de um “pecado”, como o de reclamar da fome que estão passando, mas de um pecado ainda maior, que é o da idolatria e adoração de imagens, abandonando o Senhor.
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Pecados Maiores que Outros: Em João 19.11, o apóstolo nos diz que Jesus acusou Judas de cometer um “pecado pior” que o de Pilatos. Ou seja, Pilatos havia pecado, bem como Judas, mas a transgressão de Judas foi maior que a de Pilatos.
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Pecados Graves: Após ordenar o recenseamento dos soldados sob seu comando, Davi admitiu ter “pecado gravemente” contra o Senhor. (1 Crônicas 21.8)
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Pecados para Morte: O apóstolo João escreve em sua primeira carta (1 João 5.16) que há pecados que “são para morte”. Este é um texto de interpretação controversa, e não é aconselhável deduzir quais seriam estes pecados, porém, é consensual que são pecados graves, cometidos deliberada e continuamente, e que, por não serem seguidos de arrependimento genuíno, acabam não sendo “apagados” pelo sangue de Cristo, e geram morte espiritual.
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Pecado Imperdoável: A blasfêmia contra o Espírito Santo é o pior pecado que pode ser cometido, pois é uma ação irreversivelmente imperdoável. (Marcos 3.29) Em sua ocorrência, não há liberação de perdão posterior.
O que quero mostrar é que, apesar de toda transgressão ser pecado, existem transgressões maiores e menores, e não devemos considerar como equivalentes, pecados muito mais cruéis que outros. Davi, por exemplo, em determinado momento, pecou por não corrigir seus filhos, e noutra circunstância, pecou por cobiçar a mulher do seu próximo, adulterar, enganar e ordenar um assassinato. Embora ambos sejam erros a serem evitados, não estão numa mesma escala de crueldade ou gravidade.
Este assunto talvez seja óbvio para alguns, mas não tanto para outros, pois já ouvi muitas pessoas dizerem que não há diferença entre os pecados, por não haver “pecadinho e pecadão”, e isso me estimulou a escrever este artigo.
De qualquer forma, o mais importante é buscarmos a santidade em todas as áreas de nossa vida, e crermos que se pecarmos (e pecaremos!), temos o sangue de Cristo para nos lavar e purificar de toda iniquidade. (1 João 1.9)
¹ Escrevi “pecados imperdoáveis” no plural, pois além da blasfêmia contra o Espírito Santo, qualquer outro pecado será imperdoável, se não perdoarmos aqueles que nos ofendem! (Mateus 6.14, 15)
Eduardo Feldberg